14 de jun. de 2010

FAZER DIFERENTE

A recuperação da dependência de drogas e álcool é acima de tudo a busca de um novo estilo de vida.

Todo mundo na vida passa por fases. Há situações muito fáceis de mudar. Por exemplo, um novo corte de cabelo, basta procurar um profissional e pronto: novo visual. Agora há coisas na vida que são vistas como impossíveis. Para essas há sempre aquelas respostas:
- "Sou assim e pronto";
- "Estou velho demais para mudar";
- “A vida é minha”.

Sem dúvida, mudança requer: o querer, coragem e disposição. Ninguém muda se não quer.
O querer mudar nunca é o mesmo o tempo todo. Há momentos de desânimo, desesperança, falta de sentido no desejo da mudança. É preciso ter um objetivo muito claro e saber a vantagem que essa mudança trará (elas serão maiores que as perdas?). Sobretudo, é preciso apoio e pessoas que saibam colaborar para o processo de mudança. Tudo isso tem relação com a recuperação.
Qualquer pessoa tem que mudar um comportamento. Por exemplo, alguém com medo de viajar de avião. Devido a esse medo, por muitos anos recusou empregos vantajosos e viagens com amigos para não ter que pegar avião. De repente conheceu alguém, que vivia distante e o namoro só seria possível se pegasse avião freqüentemente. Rapidamente procurou ajuda e superou esse medo.
Portanto, as situações fazem com que a pessoa busque ajuda justamente porque ela quer motivação para viver. Não dá para saber quando e o que vai motivar alguém. É preciso estar atento: a motivação para a mudança está em toda a parte, mas pode aparecer e desaparecer com grande rapidez. Por isso, quando o desejo de abandonar o consumo de drogas aparece, a melhor coisa é procurar ajuda imediatamente para que esse desejo possa ser estimulado cada vez mais.
Ser nós mesmos é tomar decisões, não para agradar os outros que nos observam ou vivem com a gente, mas porque estamos usando conscientemente e com responsabilidade a nossa capacidade de querer viver.
Para poder nos libertar do álcool e drogas sabemos que através do programa sugerido dos 12 passos podemos encontrar esperança em uma vida melhor, mas para que isso aconteça temos que realmente ter coragem e querer mudar. É justamente querer “fazer diferente” do que fazíamos vinte e quatro horas atrás!
A mente preocupada com fatos, acontecimentos e pessoas da ativa é incapaz de perceber a sua verdadeira essência na mudança. Aquele que está agarrado ao egocentrismo está vazio por dentro e cego por fora. Agora aquele que se liberta do egocentrismo descobre que sempre esteve repleto de oportunidades a sua volta, mas nunca soube enxergá-las.
Enquanto a pessoa em recuperação não se livrar de certas atitudes e comportamentos da ativa, certamente o caminho será no mínimo triste e doloroso.
Mesmo em recuperação o adicto insiste em continuar usando o “se” nas suas explicações e desculpas:
- “Se” tivesse conseguido dormir;
- “Se” minha visita tivesse vindo;
- “Se” não fosse ele/ela isso não aconteceria;
- “Se” não fosse por falta de dinheiro eu teria conseguido;
- “Se” pudesse telefonar estaria melhor;
- “Se” não fossem os problemas de saúde;
- “Se” não tivesse demorado;
- “Se” me escutassem mais;
- “Se” eu não estivesse sob tanta pressão;
- “Se” prestassem mais atenção em mim;
- “Se” este mundo não fosse tão nojento;
- “Se” as pessoas me entendessem;
- “Se” ele/ ela tivesse me pedido;
- “Se” ele/ ela tivesse me agradecido...

Seja lá qual for o “se”, fica claro que deixamos que circunstâncias controlem nossas vidas. A doença da adicção não respeita “se” nenhum! Ela não se afasta de nós nem por uma semana, por um dia ou por uma hora, fazendo com que sejamos NÃO ADICTOS e capazes de usar álcool e drogas em alguma ocasião especial ou por qualquer motivo. Nem mesmo somos capazes a uma única comemoração em toda vida, ou mesmo “se” estivermos presos por uma enorme dor. Nem “se” chover canivetes ou “se” estrelas caírem. Na doença da adicção não existem condições, ela não respeita nenhum “se”.
As experiências vividas no passado nos dão sabedoria para viver o hoje, influenciando em nossas decisões naquilo que é bom ou não, pois já conhecemos os caminhos e os resultados. Algumas pessoas deixam que o passado as mantenham presas naquilo que simplesmente já foi. Presas por infelizes “se”, atolam-se na culpa e não conseguem nem olhar o agora.
Cuidado! Em algum lugar escondido num cantinho da nossa massa cinzenta podemos conservar um pequenino “se” que pode estar acompanhado de uma pequenina restrição: “Se” tudo acontecer como eu quero!
Temos que trabalhar nossos defeitos de caráter, nossa maneira de pensar e agir. Não importa como me tratem, não importa o que aconteça, não depende de quaisquer circunstâncias ou condições.
Transferir as nossas responsabilidades e limitações aos outros é impedir e acabar com a recuperação. Devido o adicto não entender bem do seu interior e ter o costume de na ativa não assumir responsabilidades, acaba se comparando aos outros, esquecendo que ninguém é obrigado ou tem o dever de fazer por ele.
Quem se compara com os outros acaba se sentindo uma pessoa superior ou inferior, melhor ou pior. Não encontra o seu verdadeiro valor, não se conhece, não se aceita. Quem se compara acaba se defendendo dizendo: “Faço isso porque estou tentando ajudar”. Força situações e inventa histórias, fazendo com que os outros sejam os responsáveis, NUNCA ELE. Acabam achando até que seu dever é “salvar almas”, quando só podem é salvar a si próprios!
Praticando o programa dos 12 passos quando encontramos uma situação difícil ou sentimos a chegada de um problema, aprendemos a procurar ajuda antes de tomarmos uma decisão. Sendo humildes, honestos e pedindo ajuda, podemos atravessar os momentos mais duros. Eu não posso, nós podemos!!!
Em recuperação aprendemos que não temos todas as respostas ou soluções, mas que podemos aprender a viver sem drogas e termos um novo modo de vida. Podemos nos manter “limpos” e apreciar a vida como ela é.
Quando nos amamos somos capazes de amar verdadeiramente os outros. O amor é o que dá a vontade de crescermos espiritualmente. As pessoas genuinamente amorosas são por definição pessoas que crescem.
Aproveitem o momento! Se não formos bons conosco agora mesmo, certamente não poderemos ter respeito e consideração dos outros.
Fazer diferente a partir de agora significa ter uma vida diferente da que tínhamos. Requer um pouco de prática, mas vale a pena o esforço!
“Se você faz o que sempre fez, conseguirá o que sempre conseguiu”
Portanto, vamos FAZER DIFERENTE!!!
Só por hoje!!!

Por Carlos Alberto Rocha Ferreira - Psicoterapeuta Holístico especializado em dependência química.

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